Finalmente foi anunciado o novo governo. Depois do país ter dado um cheque em branco ao Eng. José Sócrates, e do PS ter dado total margem de manobra ao seu líder para escolher quem quisesse, chega o novo elenco governativo. Ficam algumas notas:
1. A primeira consideração vai para o número de ministérios (16). Apesar de todos (comentadores, economistas, empresários, políticos) terem dito que bastava 10-12 ministros, Sócrates não resistiu em dar alguns "jobs". É certo que o número é inferior aos governos de Santana e Durão, mas bem superior ao primeiro governo de Cavaco (13), o segundo de Balsemão (14), ou mesmo o primeiro de Guterres (15) e o último de Cavaco (15).
2. Sócrates não resistiu ao pecado de ressuscitar o governo do "pântano". Metade destes ministros fizeram parte do governo que afundou o país, cinco ministros de Guterres, António Costa, Correia de Campos, Alberto Costa, Augusto Santos Silva e Mariano Gago, bem como três Secretários de Estado, Luís Amado, Vieira da Silva e Pedro Silva Pereira. A inclusão de vários independentes até podia ter sido boa notícia, mas essa não é uma ideia original de Sócrates, é uma ideia de Guterres que no segundo governo teve oito ministros militantes e oito independentes. Afinal Sócrates é mesmo um simples "downgrade" de Guterres.
3. A falta de políticos influentes é bem notória. A única figura de peso do PS é António Costa, o que poderá significar uma primeira clivagem entre o PS e o seu líder. Os ministros da Presidência e dos Assuntos Parlamentares exigiam políticos de outro peso, e não os "amigos" como é o caso de Pedro Silva Pereira.
4. A falta de nomes como António Vitorino ou Vítor Constâncio é uma total desilusão. Estes homens são técnicos de elevada qualidade que faziam falta ao governo. Sócrates sempre demonstrou algum desconforto com Vitorino, o eterno D. Sebastião salvador do PS, é uma permanente ameaça para o actual líder. Vitorino até pode ser o candidato presidencial, mas será totalmente cilindrado por qualquer opositor da direita, porque falta-lhe estatuto a nível nacional que ainda não teve tempo de conquistar. Se essa era a estratégia Sócrates consegue tirar protaganismo de Vitorino e lança-o aos lobos nas presidenciais aguardando a sua morte política prematura.
5. A presença de apenas duas mulheres, representa um retrocesso nos últimos governos. Mas fazendo fé aos boates até se compreende.
6. Para o final a inclusão neste governo do Prof. Freitas do Amaral. Sócrates, provavelmente no intuito de pagar o favor do Prof., decide arranjar-lhe um "jobzinho" no governo. Se o objectivo era ser uma mais valia, face ao currículo de Freitas, o certo é que foi um tiro no pé. Freitas do Amaral desde que deixou a presidência da Assembleia da Nações Unidas, tem feito de tudo para voltar a ter um papel político relevante. Sabendo que não tinha hipóteses no CDS, partido que formou, voltou-se para o PSD de Durão Barroso, em 2002, sem resultados práticos, e agora voltou-se para o PS e saiu-lhe a sorte grande. Se Freitas fosse o ministro da Administração Interna com o objectivo de reformular a Administração Pública até se compreendia, o homem é um dos maiores especialistas nessa área. Agora nos Negócios Estrangeiros é uma peça destabilizadora porque Freitas do Amaral tem posições públicas contra a NATO e contra os EUA o que podem revelar-se comprometedoras no futuro. Fica sem dúvida como uma pedra no sapato para muitos socialistas.
Em geral penso que é um governo fraco do ponto de vista social e equilibrado do ponto de vista económico. O país deposita toda confiança em dois ministros independentes, Luís Campos e Cunha e Manuel Pinho, resta saber que margem de manobra irão ter. A esquerda está profundamente desiludido com este governo, a direita aguarda expectante.